Bocejo de novo e ouço um estalar alto na minha mandíbula
Porcaria
Talvez eu tenha quebrado um osso. Coloco o regador mais perto de uma roseira e derramo um pouco de água na terra tentando impedir mais um bocejo.
Eu não deveria ter passado a madrugada lendo, foi um erro. Mesmo que o livro tenha sido maravilhoso e que o final tenha me feito chorar que nem uma condenada.
Mas do que isso adiantava se eu não conseguia nem regar algumas flores sem conseguir impedir um bocejo? Me levanto e vou para outra roseira, uma de flores coloridas e que exalavam um cheiro tão doce quanto o ar ali de fora.
Depois de meia hora consigo terminar e vou direto para o deposito, colocando o regador e as luvas que eu acabei não usando. Sigo em direção a cozinha e sorrio quando vejo Marina terminando de lavar a louça do almoço.
- Olá Marina
- Hey, terminou?
- Sim, estou pegando o jeito – me aproximo da pia e lavo minhas mãos com sabão – Vince acordou?
- Ainda não
- O que você está fazendo aqui na cozinha? – eu pergunto e me sento em um dos banquinhos perto do balcão
- Sarah teve que ir fazer algumas compras então disse que podia ajudar – Marina responde e eu sorrio. Ela trabalhava na casa como faxineira, junto
com outra menina. Mas ao contrário da outra Marina era alegre e sempre estava tentando ajudar, com seus cabelos claros e olhos escuros ela era a minha outra amizade aqui dentro da mansão de Vince.
A outra era tão taciturna e rigorosa que eu nem ao menos sabia o seu nome, ela sempre finge que eu não existo quando passa por mim. Eu acho uma falta de educação, mas quem só eu para lhe dar uma lição, não é mesmo?
- Kathy?
- Sim?
- Uma pergunta – Marina se inclina no balcão e olha para a porta checando se alguém vinha – Você conheceu o neto do sr. Vince?
- Hum, sim, na semana passada
- Eu o vi hoje e caramba que cara bonito – dou risada com o seu tom animado e ela olha para mim - Você não acha o mesmo?
- Mais ou menos – dou uma resposta vaga e olho para trás antes de perguntar curiosa – Essa é a primeira vez que você o vê?
- Sim, mas eu só comecei a trabalhar aqui ano passado – Marina se inclina um pouco mais e sussurra – Ele está de mudanças para cá, não é só uma visita sabe?
- Sério? – ah não, por favor.
Será que podia ficar pior?
- Sim, ouvi dizer que ele é o novo sócio das indústrias Campbell. Ele começou hoje, saiu bem cedo e até agora não voltou
Que maravilha
- Fico feliz por Vince, ele deve estar feliz pelo neto estar por perto
- Deve estar aliviado mesmo. Depois de perder tanto assim
- Perder? – eu pergunto confusa – A esposa você quis dizer?
- Também, mas a....
Trimm!
Pulo um centímetro e pego o meu celular do bolso, desligando o alarme.
- O que foi isso? – Marina pergunta assustada e eu sorrio mostrando a tela do celular
- Hora do remédio de Vince
- Por favor, me diz que não são quatro horas
- Desculpe, mas são quatro horas da tarde – eu falo e ela se afasta da bancada indo até a despensa
- Droga, eu esqueci de fazer o bolo que Sarah pediu
- Sarah pediu que você fizesse um bolo? – eu pergunto confusa e vejo ela voltando com ingredientes de bolo nos braços
- Ela citou que queria fazer um bolo, então eu disse que podia fazer – Marina vê a minha expressão receosa e franze a testa – Você acha uma péssima ideia?
- Só um pouquinho
- Merda
- Eu posso ajudar você a fazer, se quiser, mas fique sabendo que sou péssima na cozinha
- Então porque está querendo ajudar? – Marina pergunta rindo e eu me levanto do banquinho
- Se Sarah brigar, a gente divide a culpa. Combinado?
Marina assente animada e eu saio da cozinha indo em direção ao segundo andar. Paro em frente a porta de Vince e bato antes de entrar.
Sou recebida com um resmungo e uma careta feia. Reviro os olhos e vou até a mesa pegando os remédios da tarde, coloco-os na mão e encho um copo de água entregando-os a um Vince rabugento.
- Porcaria de remédios
- Concordo
- Mentirosa – Vince toma os remédios e bebe um gole de água me entregando o copo em seguida – O que temos para hoje?
- Bolo
- O que? – ele pergunta e eu coloco o copo de água na mesa antes de me virar para ele pegando sua bengala no processo
- Vamos fazer bolo Vince
- Não sei fazer bolo
- Ótimo, a gente também não
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