Guardo as coisas dentro da maleta e a fecho antes de me virar para Vince que está observando o ar meio nublado do lado de fora.
- As vezes sinto falta de trabalhar – ele diz baixinho e eu me aproximo ficando do seu lado.
- Até mesmo em dias como esse?
- Como assim? – ele pergunta se virando para mim e eu aponto para o lado de fora.
- Dias nublados e chuvosos
- Sim
- Você é estranho – eu falo e ele balança a cabeça sorrindo – Todo mundo quer ficar em casa dormindo, assistindo, comendo besteira, ou até mesmo os três juntos.
- Eu queria trabalhar – ele afirma e eu concordo seriamente
- Eu entendo o sentimento
- Ah é? – ele fala e sai da janela se sentando em uma das poltronas – Você também prefere trabalhar?
- Não. Eu só disse que entendo
Vince ri roucamente e eu dou um sorriso saindo de perto da janela fria
- Qual é a sua história Katherine Fontaine?
- Minha história? – eu pergunto me sentando na poltrona ao lado – Que pergunta intensa. Anda consultando o terapeuta?
- Não seja engraçadinha – ele se reclina na poltrona e repete a pergunta – Qual é a sua história de verdade?
Inspiro e cruzo as mãos no colo olhando para ele.
- O que quer saber?
- Tudo, desde o início – ele responde e eu mordo o lábio pensando no que contar.
- Sou filha única por assim dizer. Mas meu pai se casou com Nádia depois de alguns anos, e ela tinha uma filha um ano mais velha que eu. Desde então eu meio que ganhei uma irmã mais velha – sorrio levemente e ele acena afirmando que está ouvindo – Com dezessete anos eu entrei para a faculdade de enfermagem, e com vinte e dois anos eu comecei a trabalhar no hospital. Já minha irmã, a Íris ela fez literatura e ama trabalhar com crianças. Nos moramos juntas desde a faculdade – descruzo as mãos e levanto um ombro – Fim da história.
Vince fica em silencio e depois de alguns segundos ele pigarreia se inclinando para frente.
- E sua mãe?
Ok, eu estava esperando por isso
- Ela ficou muito doente por um tempo e depois ela somente não aguentou – eu sussurro e pigarreio aumentando a voz – Ela foi embora um dia e depois disso eu não a vi mais.
- Ela a deixou? – ele pergunta assustado e eu sorrio com pesar
- Ela não encontrou muitos motivos para ficar
- O que? – Vince pergunta em voz alta e eu me ajeito no sofá – Você é motivo o suficiente Kathy
- Não para ela, obviamente – eu respondo e ele franze a testa confuso, decido explicar pelo menos essa parte – Ela queria o amor do meu pai, só que ele não é um cara de emoções – a não ser quando se tratava dele, é claro. Mas não falo isso – Então ela o deixou, ela se sentia presa a ele.copy right hot novel pub