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INDECENTE DESEJO

CAPÍTULO 21 - AURORA LEAL

Algumas horas antes.

Eu sabia que esse dia chegaria cedo ou tarde. "O destino sempre volta pra cobrar suas dívidas", minha mãe costumava falar. Evitei ir até a penitenciária quando pedi o divórcio, na época de sua prisão a mídia me torturou tanto que fiquei depressiva por duas semanas, nunca fui vê-lo, nem ao menos para entender toda a situação, mas sabia que ele viria atrás de mim quando saísse e sinceramente, ele demorou mais do que eu previa. Encaro o comprimido como se ele fosse minha boia salva vidas, indecisa se devo ou não ingerir o sedativo forte para acalmar meus nervos. Os medicamentos para controle de ansiedade começaram a fazer parte da minha vida na adolescência, quando a ausência de mamãe se tornou quase insuportável e as crises vieram, junto de noites mal dormidas. Algo mais leve no início, mas com o tempo apenas um tarja preta conseguia surtir efeito.

— Droga! — Grito, arremessando o medicamento na lata de lixo. Coloco uma mão sobre minha barriga me convencendo de que esse é o certo a se fazer.

Pego minha bolsa, caminhando para a saída do meu apartamento, não deixando de visualizar meu perfil no grande espelho da sala de estar e constatar o volume no meu abdômen. Abano com a cabeça, expulsando o fio de culpa que ameaça aparecer. Ele queria um filho. Henrico sempre deixou claro suas pretensões, uma família grande e perfeita, assim como era com seus pais. Mas infelizmente aquele não era meu sonho, eu sequer pensava em ter filhos, então cada vez que ele sugeria algo eu mudava o rumo da conversa. Eu não o amava. Eu não poderia ter os seus filhos.

Mas...

Suspiro, puxando e soltando o ar pra fora dos meus pulmões quando o elevador ameaça abrir. Graças à Deus não tem nenhum vizinho ao meu lado, me perguntando sobre meu pai ou como vai a gravidez.

O grande Augusto Leal.

O único homem capaz de me convencer a fazer qualquer coisa, até mesmo mentir para o juiz.

Saio do elevador, ignorando os cumprimentos de alguns conhecidos no Hall e seguindo direto para fora do prédio, acenando para o primeiro táxi que aparece, grata por ele estar vazio.Não estou pensando quando dou o endereço da primeira casa que morei, o lugar que hoje é morada de papai e as impostoras. Me remexo no banco, desconfortável com todos os pensamentos que estão surgindo na minha mente agora.Ele queria saber daquela noite.

A noite em que fui encontrar Pedro.

— Mais rápido, por favor. — Peço ao motorista. Mordo o canto do meu lábio, visualizando perfeitamente a tal noite na minha cabeça. A noite estava fria e sombria, apesar de que a chuva estava só no começo quando saí, eu sabia que um temporal estava prestes a cair, apenas não imaginei que esta viria a ser uma analogia perfeita anos depois.

— Obrigado. — Digo ao taxista, entregando bem a mais do que a corrida deu e seguindo direto para a enorme casa luxuosa. A casa que a minha mãe escolheu. Entro direto, sem bater ou fazer qualquer barulho para chamar atenção. Eu sei que papai está em casa, sei porque conheço sua agenda e por isso, sigo direto para seu escritório. Ele levanta a cabeça e ergue sua sobrancelha assim que me ver, sua boca torce em desagrado e concluo que minha presença não é bem-vinda.

— Aurora.copy right hot novel pub

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