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INDECENTE DESEJO

CAPÍTULO 58 - AMÉLIA

Tento abrir meus lábios e dizer que sim, ela pode entrar, mas não consigo. Parece que desaprendi a falar e tudo que consigo fazer são barulhos. Barulhos constrangedores. Os médicos me explicaram que isso é devido a minha situação, faz quase dois dias que acordei do coma e ainda preciso exercitar minha falar, reaprender a me comunicar. Então, tudo que faço é balançar a cabeça de forma positiva e torcer para que Aurora entenda meu recado. Minha meia irmã entra, fechando a porta assim que passa completamente pela porta e me olha com certa polidez, não se demorando muito em sua avaliação. Ela dá dois passos na minha direção e a olho com curiosidade, sem saber ao certo o que esperar de sua visita. Certo, eu me lembro de algumas coisas. Nós duas fomos sequestradas por Pedro e ela me defendeu em certos momentos, mas tudo que me lembro antes de acordar é do carro de Pedro capotando com nós dois dentro.

— Onde está Arthur? — Formulo a frase na minha cabeça, colocando cada letra em sua devida ordem, mas não obtenho um bom resultado quando tento pronunciar. Ela se aproxima ainda mais, se senta ao meu lado na cama e aperta minha mão na sua. O gesto me deixa surpresa e pisco como incredulidade para seu toque.

—Deixei Arthur com sua mãe. — Diz de forma natural, como se minha fala atrapalhada não fosse um ponto importante.

Balanço a cabeça em entendimento e ela sorrir, mas não de uma forma bonita ou alegre.

— Sinto muito. — As palavras saem como um sussurro espremido, antecedendo um choro soluçado. Minha reação é não ter reação alguma, fico perdida olhando pra uma Aurora chorosa. Abro a boca para falar, mas o som estranho que sai da minha boca parece aumentar a crise de choro, então, tento acalmá-la tocando seu cabelo.

— Desculpa.— Repete, encarando nossas mãos ainda unidas. Nego com a cabeça, tentando passar a mensagem de que ela não tem do que se desculpar. Seus braços me circulam sem nenhum prelúdio e Aurora me abraça como nunca antes fez.

Mais uma vez, tento falar algo, mas minha voz sai fraca e praticamente inaudível. Ela continua me abraçando enquanto chora, então de repente sinto as lágrimas descerem pelos meus olhos e estou chorando junto com ela.

— Ele se foi. —Deixa escapar se afastando para me olhar nos olhos e levo alguma segundos para entender suas palavras.

Ele se foi.

Ele se foi.

— Pedro não resistiu ao acidente e morreu na explosão do veículo. —Esclarece, enxugando os olhos com as pontas dos dedos sem desviar eles de mim.

Pedro se foi.

Eu deveria sentir algo com essa notícia? Ele era o marido da minha irmã, meu melhor amigo. Nos conhecemos desde que era uma criança e passei a minha adolescência acreditando estar apaixonada. Então, por qual motivo sinto alívio? Acho que é soma de tudo, os momentos ruins sobrepuseram os bons e sei que nunca seríamos felizes com ele vivo. Uma pontada fina na minha têmpora me faz formar uma careta e Aurora percebe, gritando por uma enfermeira antes de me perguntar se eu estou bem.

Deve ter sido uma careta de extrema dor.

— Não... — Consigo pronunciar com esforço e ela me olha com os olhos bem abertos, cessando seus passos antes de chegar a porta. Ela parece perdida, me olhando como se eu fosse uma atração exótica e volta correndo para o meu lado. —Você falou! — Grita eufórica, me puxando para outro abraço.

— Sim. — Consigo dizer, me deliciando com o som da minha própria voz. Aurora se afasta poucos centímetros e me olha de uma forma fraternal.

—Eu sinto muito. — Volta a dizer, colocando seu dedo indicador em meus lábios quando ameaço falar algo.— Apenas me ouça, ok? — Fala e assinto. Ela se afasta, mas, continua sentada sobre a cama, me encarando em silêncio. Suspira, fechando os olhos duas vezes antes de me olhar novamente.

— Eu não venho sendo justa com você todos esses anos, Amélia. — Começa, usando um tom que nunca antes a ouvi usar e aguardo para que prossiga. Aurora deixa a cama, se virando de costas pra mim quando parece ter dificuldade ao puxar ar para os pulmões. — Você ficou seis meses em coma.copy right hot novel pub

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