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INTENSO DESEJO

CAPÍTULO 17 - LORENZO

O gosto amargo da bebida âmbar desce queimando, o aroma forte entorpece os meus sentidos e minha cabeça lateja como se alguém a tivesse acertado com socos o dia todo. A culpa me fez encher meu copo muitas vezes e ainda não me sinto melhor, a raiva cresce a cada gole e as lembranças de todos esses anos se ampliam em minha mente.

Era tudo uma mentira. Todos esses anos juntos.

Encaro o retrato sobre minha mesa, uma foto nossa de quando começamos a namorar, os traços delicados moldando o belo rosto pueril e risonho. Ela transbordava perfeição e vitalidade, capaz de fazer até mesmo um cara como eu acreditar que poderia ser feliz. Achei que tinha encontrado a mulher ideal quando botei os olhos nela, o jeito sereno me causavam uma comoção tão natural que fiquei desesperado para realizar cada sonho que ela me proporcionava só com olhar. Me joguei sem aviso prévio no nosso relacionamento.

Mesmo ciente que ela não merece nenhuma gota das lágrimas que continuo derramando, choro em homenagem aos momentos verdadeiros que tivemos, incapaz de destruir todas as boas lembranças. Arremesso o copo com a bebida longe, o vidro se choca contra a porta e se estilhaça no processo, derramando o líquido por todo o assoalho, meu corpo treme, meu coração pulsa rápido e em descompasso com a adrenalina, sorrio com o milésimo de alívio que a ação me trouxe, me permito soltar a dor da decepção. Grito, urro, desesperado pela sensação de paz outra vez e passo a destruir todas as fotos dela que encontro. Quero beber até cair inconsciente, me afogar no álcool até esquecer quem sou e o que descobri. Minha cabeça está latejando, não estou nada bem e preciso me apoiar para permanecer de pé.

Eu sou um merda.

Me encaminho para meu laptop para mais uma sessão de tortura, talvez eu tenha merecido tudo no fim. Quando deixei minha menina hoje mais cedo e fui encontrar Octávio no bar eu tinha um maldito sorriso no rosto, não, eu tinha um maldito sorriso cravado no coração. Cada parte de mim dizia para não fuçar sobre isso e mais uma vez a merda da minha intuição estava certa. Os pais de Melissa não eram propriamente ricos, mas tinham uma quantia considerável no banco e uma pequena floricultura que minha menina herdou quando eles morreram, o dinheiro estava guardado em uma conta feita por mim e administrada por sua tia aonde passaríamos a titularidade para ela na maioridade, mas no último mês o banco me avisou dos grandes saques que haviam sido realizados no último ano e quando verifiquei semana passada a conta estava praticamente zerada, primeiro pensei que Melissa havia descoberto a conta e pedido para Solange realizar os saques, mas minha garota não faz a menor idéia da existência desse dinheiro até hoje, então estou desconfiado da minha falecida esposa. Ela não roubaria a própria sobrinha, ainda mais tendo um marido rico que lhe oferecia de tudo, bem, quase tudo. Eu não lhe oferecia droga.

A tela liga e abro meu e-mail, abrindo a o dossiê em formato de pdf que o detetive particular me enviou, clico duas vezes e o arquivo abre, mostrando-me um relatório detalhado do que minha mulher fez nos seus últimos meses de vida. Existem fotos dos lugares onde ela frequentou, inclusive, do local onde a encontraram morta, o nó se forma em minha garganta e mesmo ciente do que posso encontrar, olho página por página. Quando termino a leitura da última linha tenho a sensação ter casado com uma estranha ou, talvez, eu tenha sido de fato um mau marido e sou o culpado por sua vida dupla.copy right hot novel pub

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