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INTENSO DESEJO

CAPÍTULO 21 - MELISSA

Encaro disfarçadamente a mulher a minha frente, o semblante amigável e a pele enrugada me deixam confortável, faz lembrar que nunca conheci minhas avós, a paterna morreu um pouco antes do meu nascimento e já era viúva, a mãe de mamãe morreu quando elas ainda eram pequenas e as deixou ao cuidado de vovô, que infelizmente também faleceu antes dos meus cinco anos. A consciência disso me faz suspirar baixo em pesar, como se minha vida fosse uma verdadeira sequência de perdas.

Corto um pedaço do bolo de laranja e sorrio quando a sirvo.

— Obrigada, querida. Não precisava se incomodar.

— Não foi nada.

Estamos juntas sentadas a pequena mesa de vidro que fica entre a sala e a cozinha, corto meu próprio pedaço de bolo e ocupo minha boca antes que as palavras comecem a sair sem controle, estou realmente fazendo meu melhor aqui e espero que ele chegue logo.

Sinto seus olhos me avaliarem, assim como eu fiz segundos atrás e começo a questionar se foi uma escolha inteligente deixar uma estranha entrar, mesmo que essa estranha seja uma velhinha fofa e visivelmente inofensiva.

— Então, a senhora conhece o meu tio? — Pergunto, mantendo meus olhos abaixados para a xícara de café na minha mão.

— Não exatamente. — Franzo a sobrancelha sem entender o que suas palavras querem dizer.

— Pensei que fossem amigos — Falo, dessa vez olhando diretamente em seu rosto. Desconfiança me bate e sinto que as coisas estão nas entrelinhas, como um jogo de palavras e estou sendo deixada pra trás.

Primeiro, Lorenzo e seus telefonemas que o fazem desaparecer sem explicação. Uma hora a gente pode foder sem problema, em outra sou nova demais e tudo é errado. Agora tem essa senhora me dizendo e não dizendo coisas, tenha a santa paciência.

— Você é tão linda, Melissa. — A mudança repentina de assunto me faz comprimir os lábios em desagrado. A voz comovida como se ela estivesse fazendo uma grande revelação me faz remexer na cadeira.

Engulo a vontade de mandá-la parar de enrolação e jogar tudo o que veio pra dizer.

— Obrigada. — Agradeço, mas não me preocupo em parecer de fato agradecida com o elogio. — Então, o que você veio falar com meu tio?

O meu celular apita com uma mensagem e o pego de sobre a mesa, encaro a tela e ofego chateada, faz mais de vinte minutos que nos falamos pelo telefone e ele parecia tão desligado que me irritou. O idiota provavelmente veio o mais rápido que conseguiu, provavelmente irei escutar um sermão de como não abrir a porta e convidar pessoas que não conheço para tomar um lanche da tarde, mas o que poderia ser feito? Não se manda uma velhinha embora assim tão facilmente, ainda mais quando esta em questão veio exclusivamente falar com o senhor misterioso, eu pensei que se tivesse algum momento com ela poderia descobrir mais alguma coisa.

Definitivamente, eu não engoli aquela história de me proteger e que tudo está bem.

Me proteger de quem?

Cheguei.

É tudo o que a mensagem diz e deduzo que ele já está no prédio e subindo para o apartamento, reviro os olhos e devolvo o celular para o seu lugar.

— Era o seu tio, querida? — A senhora pergunta, repousando o garfo sobre o pequeno prato que ainda carrega o pedaço de bolo quase por inteiro.

— Sim.

— Vocês se dão bem? — Ela pergunta, de repente parecendo muito interessada.

Meu coração pesa, as cenas dos nossos beijos, dele enterrado em mim e sussurrando todas aquelas coisas no meu ouvido vagueiam pela minha mente. Se nos damos bem? Sim, de muitas formas, mas não como a senhora provavelmente aprovaria.

— Na maior parte do tempo. — Digo, me limitando nas respostas ao começar a duvidar dos reais motivos desse questionário sobre nossas vidas.

— Vocês moram sozinhos aqui? — Arqueio uma sobrancelha em sua direção, deixando claro que suas perguntas estão começando a me incomodar. —Quero dizer, esse lugar parece tão grande só pra vocês dois. — Acrescenta.

— Olga, está por aqui quase todos os dias. Morávamos aqui quando titia era viva, não quisemos nos mudar. — Ela afirma a cabeça de forma positiva, como se concordasse comigo.copy right hot novel pub

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