Raviel olhou para o garotinho que nem chegava à altura de suas coxas. Suas frias sobrancelhas ficaram suavizadas bastante:
- Onde está sua mamãe?
- A mamãe está lá dentro
Daniel apontou para a sala, e em seguida se virou de lado para abrir passagem no vão da porta:
- Entre, titio Ravi.
- Com licença - Raviel acenou ligeiramente com a cabeça.
Ao chegar à sala, o menino gritou na direção do banheiro:
- Mamãe, titio Ravi está aqui.
A voz de Andreia ecoou, vindo de lá de dentro:
- Faça companhia para o titio por enquanto.
Daniel assentiu com um leve murmúrio e deu um tapinha no sofá:
- Sente-se, titio Ravi. A mamãe já vem.
- Tá.
Raviel puxou a colcha e se sentou. O menino inclinou o rosto e olhou para observar a colcha:
- Titio Ravi, por que o senhor está segurando a colcha de minha mãe?
O convidado respondeu com sutileza:
- Esta colcha é de sua mãe?
- Sim - o garoto assentiu com a cabeça.
Raviel franziu os lábios finos e nada falou. Em seu peito circulava uma emoção complexa. Ele imaginou que fosse uma colcha nova, e não que já houvesse coberto alguém. O mais estranho de tudo isso era ele não a ter rejeitado. Geralmente, ele sentia até repulsa das coisas de Judite, mas já Andreia...
- Titio Ravi - o chamado de Daniel interrompeu sua reflexão, e ele se virou:
- O que foi?
- A mamãe saiu - lembrou a criança.
Raviel desviou o olhar e viu Andreia sair do banheiro trazendo Giovana.
- Desculpe por tê-lo feito esperar por tanto tempo, presidente Raviel. Eu acabei demorando um pouco mais para pentear o cabelo da menina - ela sorriu para ele, envergonhada.
- Tudo bem, sem problemas - ele se levantou e respondeu sem muito alarde.
Andreia notou que ele havia recobrado a aparência usual, de olhos distraídos. Não fosse pela leve dor no pulso, ela poderia até pensar que tudo o que houve na noite anterior era uma ilusão. É claro que, por mais poderoso que alguém possa ser, há sempre um lado frágil e oculto em seu coração.
- A propósito, presidente Raviel, o senhor se recuperou? Está sóbrio? - perguntou, preocupada, enquanto descia Giovana de seus braços.
Assim que desceu ao chão, a menina quis correr para Raviel, mas foi detida no meio do caminho pelo irmão.
Ele sabia que, quando a mãe e o titio estivessem conversando, as crianças não deveriam incomodar.
- Sim, estou sóbrio - ele acenou de leve com a cabeça.
- Que bom, Sr. Raviel. Convém beber menos de uma próxima vez. Ficar bêbado é muito perigoso - ela levantou a questão com toda sinceridade.copy right hot novel pub