- Você está distorcendo os fatos - ela lançou um olhar de desprezo a ele, daqueles que diziam que ele era um babaca sem razão, um homem primitivo que só deixou de ser quadrúpede, sem que o cérebro acompanhasse o restante da humanidade. Em suma, um idiota!
Sem querer continuar a discutir com ele, a moça se apoiou na janela, fechou os olhos e não disse mais nada.
O silêncio tomou o veículo. Quando chegaram ao estacionamento da Boate Brasserie, saíram do carro e entraram no elevador, um atrás do outro.
Renato entregou a chave a Aurélio e foi embora no próprio carro. Ele não entendia muito bem o que se passava com as brigas dos dois.
No elevador, mesmo sem muito espaço, Estefânia encostou em um canto, tentando se manter o mais longe de Aurélio, desgostosa que estava de suas palavras e de seus atos.
- O que está fazendo aí tão longe?
O homem de postura retilínea olhou para a delicada mulher que franzia as sobrancelhas e trazia o belo rosto cheio de desagrado.
- Ficar perto de gente boa atrai bondade; ficar perto de gente ruim atrai maldade. Ficar perto de gente tola atrai tolices - ela ergueu as sobrancelhas e rebateu, displicente.
Dito isso, o rosto de Aurélio ficou ainda um pouco mais sombrio. Ele esticou os longos braços, puxou Estefânia e passou as mãos pelas costas dela, abraçando-a:
- Diga isso de novo.
A garota lutou mas, por mais que tentasse, não conseguia se desvencilhar; era como estar em grades de aço.
Se não consegue se libertar, não tem por que se incomodar em resistir.
Ela ergueu a cabeça e olhou para ele:
- Ficar perto de gente boa atrai bondade; ficar perto de gente ruim atrai maldade.
- E o resto?
- Ficar perto de gente tola atrai tolices.
- Você quer morrer, não é?
Ele apertou a bochecha dela com a mão. A pele ficou marcada, mas estava cheia de colágeno. O aperto a deixou com o formato de um bolinho frito recheado, com um certo charme e uma certa meiguice.
- Você vestiu a carapuça e agora vem me culpar? Além do mais, eu por acaso mencionei meu sobrenome?
As lindas sobrancelhas de Estefânia se contorceram, e ela estendeu a mão para dar um tapinha no dorso da mão de Aurélio:
- Solte-me. Não sabe que homem e mulher estranhos entre si não devem ter contato físico?
- Até dormir, já dormiu. Não acha que é um pouco tarde para dizer isso?
Os lábios pontudos dele se curvaram com modos de brincadeira, e até se via um certo desejo em suas pupilas. Mas seu olhar só provocou um frio na espinha da moça, que engoliu em seco:
- Eu vou avisar só uma vez: se você encostar em mim de novo, eu nunca, mas nunca vou perdoar você!
O recado era inteiramente sério. O rapaz a encarou por um momento e riu com frieza:
- Essa sua carinha não tem muita diferença da de Iara. De onde você tirou que eu iria tocá-la?
Ou seja, melhor encostar em Iara do que nela. O coração de Estefânia, já por um fio, desabou.copy right hot novel pub